Maria no pensamento da Igreja

21/10/2010 16:51

 

Nos primeiros séculos, a patrística - nome dado aos “Pais da Igreja” e da Filosofia Cristã primitiva - já nos traz indícios da devoção Mariana, pois nas homilias sobre Jesus encontramos as referências sobre Maria; temos histórias piedosas nos apócrifos, como no evangelho de Tiago.

 

No alvorecer da idade média ocorre o crescimento e o florescimento da piedade Mariana, que se difunde, por conseguinte, em todo o meio Cristão.

Podemos encontrar uma das primeiras expressões de Fé, com relação à Maria, nos escritos do Bispo de Hipona, Santo Agostinho, quando trata da Virgindade Perpétua de Maria.

 

Diz o Santo Doutror:

 

“Cremos no Filho de Deus, que nasceu pelo Espírito Santo, da Virgem Maria (per Spiritum Sanctum ex Virgine Maria). De fato, o Dom de Deus, isto é, o Espírito Santo é que nos valeu tão grande humildade por parte de um Deus tão magnífico, a ponto de se dignar tomar nossa natureza toda inteira (totum hominem suscipere), no seio de uma virgem. Veio Ele habitar num seio materno, deixando-o intacto.”

 

(De fide et symbolo IV,8 - BA 9 p. 36) 393 d.C.

 

Santo Ambrósio de Milão escreveu:

 

Houve quem negasse que Maria tivesse permanecido virgem. Desde muito temos preferido não falar sobre este tão grande sacrilégio. Maria (...) que é mestra da virgindade, (...) não podia acontecer que aquela que em si tinha trazido Deus, resolvesse andar às voltas com um homem. Nem José, varão justo, cairia nessa loucura de querer misturar-se com a mãe do Senhor, em relação carnal".

 

(De Inst. Virg. I , 3)

 

(“) Nos Padres [primitivos], a reflexão versou, antes de tudo, sobre Maria no mistério da Anunciação e do Natal, destacando seus predicados de Nova Eva e figura da Igreja, bem como o conteúdo doutrinário da Maternidade Divina e Virginal.

O paralelismo "Eva-Maria " é utilizado desde o século II, para recordar que uma e outra foram criadas imaculadas, "virgens", e para opor suas atitudes: Eva cooperou para nossa ruína; Maria, para a nossa Redenção. São Justino, Santo Ireneu e Tertuliano, pouco depois, são os principais divulgadores dessa comparação, provavelmente originária das Igrejas da Ásia, talvez desde São João Evangelista, a quem se deveria então o complemento da antítese paulina Adão-Cristo.

Maria, ao contrário de Eva, a virgem desobediente, foi dócil à Palavra de Deus, tornando-se "para si e para todo o mundo, causa de salvação", diz Santo Ireneu. Mais adiante, a comparação se elabora também a partir da idéia de "mãe dos viventes", significação do nome "Eva" (Gen. 3,20).

 

Escreve, por exemplo, Santo Epifânio (+403):

 

"Numa consideração exterior e aparente, dir-se-ia que de Eva derivou a vida (...) Na verdade, é de Maria que deriva a verdadeira vida para o mundo; é ela que dá à luz o Vivente; é ela a Mãe dos viventes".

Maria é comparada também à Igreja. Os Padres viram entre ambas a continuidade de um mesmo mistério, representando Maria o começo do que se passa na Igreja, sendo seu "tipo": "a Igreja imita Maria", "a Igreja é semelhante a Maria". (”)

(Dom Cirilo Folch Gomes OSB, - Riquezas da Mensagem Cristã, Ed. Lumen Christi, pp. 435-437).

 

Orígenes que viveu entre 185-253 d.C, grande pai da teologia e filosofia Cristã primitiva, faz uma belíssima reflexão numa homilia ao Ev. de São Lucas:

 

“Donde me vem esta graça de que a mãe do meu Senhor venha até mim”?

 

"Tu és bendita entre as mulheres e o fruto do teu ventre é bendito. Donde me vem esta graça de que a mãe do meu Senhor venha até mim?" Estas palavras: "Donde me vem esta graça?" não são sinal de ignorância como se Isabel, toda cheia do Espírito Santo, não soubesse que a mãe do Senhor tinha vindo até ela de acordo com a vontade de Deus. Eis o sentido das suas palavras: "Que fiz eu de bom? Em que é que as minhas obras são tão importantes que a mãe do Senhor venha ver-me? Serei uma santa? Que perfeição, que fidelidade me mereceram esta graça, a visita da mãe do Senhor?" "Porque ainda a tua voz não tinha aflorado os meus ouvidos e já o meu filho exultava de alegria no meu seio". Ele tinha sentido que o Senhor viera para santificar o seu servo ainda antes do seu nascimento.

Pode acontecer que me chamem louco os que não têm fé por eu ter acreditado nestes mistérios! (...)”